segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Sangue com Suíngue

- "Quer dançar?", pergunto timidamente.

A menina, que nem muito bonita era, hesita, buscando aprovação das amigas, que regozijam em um risinho pré-adolescente. Não, isto não é um bailinho para pré adolescentes tocando Dire Straits. Estou falando de adultos com muito mais de 20 em um forró de uma cidade cosmopolita como São Paulo.

- "Não quero te beijar, quero dançar simplesmente. E aí, precisa autorização da mãe?", replico, encardido.

Nosso mundo romano-anglo-ocidental-sei-lá (circuito Europa/América) associa a dança diretamente a ritos sexuais. No mínimo à uma conquista de uma noite. Foi então que chegamos à África.

A África é um mundo à parte em muitos sentidos, e este é definitivamente um dos sentidos mais evidentes. Nas boates e shows ao vivo, é cena comum um homem dançando só, despreocupado. Não menos comum é homem tirar homem pela mão para dançar. Não posso afirmar que a dança, o ambiente de discoteque não forneça todos os elementos para a conquista, nem que os africanos não utilizem a dança como forma de sedução, muito pelo contrário: dançam de forma bastante erótica. No entanto, subjaz uma despretensão que associa a dança pura e simplesmente com diversão - como deveria ser?

Ver um africano/a dançar é uma cena surpreendente, não apenas pelo suíngue no sangue - suíngue que o brasileiro que gosta de samba, gostou de lambada ou apenas admira os dribles do Robinho conhece de perto - mas pela entrega. Olhos fechados, braços estirados, rosto mirando o teto ou o céu, cintura invariavelmente requebrando, o africano, acima de tudo, sente a música. Uns pulam mais, outros se mexem vagarosamente, por vezes parecem atrapalhados, mas nunca perdem o ritmo, muito menos a espontaneidade.

Por isso começo agora o movimento, dedicado a aumentar a espontaneidade nas pistas de dança de todo o mundo:
  1. ABAIXO AS COREOGRAFIAS DE AXÉ;
  2. ABAIXO A DANÇA DE SALÃO;

    ...Mas, acima de tudo:

  3. ABAIXO AS MENINAS PUDICAS NOS BAILES DA VIDA!!!

Quem estiver de acordo por favor levante o dedo e digite um comentário.

1 comentário:

Del Nero disse...

Ae Celão!

Esse texto me lembrou uma vez numa das nossas aulas de francês na TF (com o professor Gabonês) que no final da aula ele colocou um hip-hop (desses que virou modinha) em francês pra gente ouvir... só que ele começou a dançar.. e continuou a dançar pouco se importando com as risadas que dávamos!! hehehe!!

Claro que no final rolou até aplauso!

abs