domingo, 16 de setembro de 2007

Huxley, Carne e Circo

Na África me sinto como o protagonista de "Admirável Mundo Novo". Enquanto Bernard ia ao México para observar humanos primitivos, que ainda viviam em ambientes naturais, tinham relações sexuais e tocavam instrumentos com sons naturais em contraste com a sociedade da música sintética, drogas psico-anestésicas, educação condicional e inseminção artificial, nós aqui na África viemos observar animais que já vimos, com certa frequência, em Zoológicos e afins. No entanto aqui temos a graça de que os mesmos estão em seu habitat natural, praticamente ignorantes de nossa presença, por incrível que pareça - exceto a girafa, eleita a mais tímida.

Pior, visitam-se tribos de nativos, gente mesmo. Mais ou menos do mesmo jeito que se visitam as favelas no Rio de Janeiro ou cerimônias de Candomblé em Salvador com pacotes turísticos, muitas vezes organizados inclusive por estrangeiros.


Olha-se e fotografa-se o Himba pintando o corpo e fazendo funge (tipo o cuscus do Nordeste brasileiro); o leão dormindo, o leão bebendo água, o leão trepando; o Gepardo estraçalhando os ossos do coelho enquanto come.


Me sinto como criança que pára na estrada para tomar leite direto da vaca misturado com groselha no caminho para Campos do Jordão; ou como um garoto extra-urbano visitando um "Pet-Zoo" para descobrir donde vem o ovo; ou, no pior dos casos, como um romano alimentando-se de pão e circo. E ainda: pagando para ver.

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