quarta-feira, 17 de outubro de 2007

De Longe, Tão Perto*

Quando estamos correndo, dia a dia, submersos em preocupações mundanas - contas, horário, trabalho, jogo do Corinthians - é fácil esconder ou subjugar uma emoção, afogando-a no mar de vicissitudes circunstanciais. Conclui-se então que, ao viajante, desprendido (ao menos supostamente) de todas estas cotidianidades, existe uma aparente vantagem: poder se envolver com os problemas próprios e alheios, ouvir mais suas comoções pessoais, abrir mais o coração para auscultar-se profundamente, com os sentidos em alta e a mente livre.

No entanto, ao livrar-se de grande parte das amarras que ofuscam as emoções radicais, deixando para trás casa, trabalho, celular, Corinthians, naturalmente criam-se novos espaços, como se, jogando fora o amontoado de pequenas coisas do cotidiano, se descobrisse um buraco, um vácuo emocional, pronto para ser preenchido - é evidente que ao menos família e amigos permanecem em outra dimensão, afetada de forma especial. Logo, quando somos colocados, de repente, diante de uma anomalia, uma situação inesperada, nos vemos surpreendidos além do hábito e as emoções afloram com uma intensidade completamente revigorada, preenchendo-nos, afetando-nos mais que o usual.

Boas notícias, más notícias, exaustão física, relaxamento físico - tudo tem maior impacto. É como uma tempestade logo após céu azul: inesperado, ainda que previsível; surpreendente, ainda que óbvio; catártico, ainda que natural.

Assim, em viagem, re-construímos nossa sensibilidade: de longe, tão perto. Rumando, aos poucos, de volta ao mundo.

*Em memória de Georgina Bernain, la linda abuelita pianista.

1 comentário:

Anónimo disse...

Merci de me ramener à ces valeurs fondamentales que j'oublie moi aussi, prise dans mon quotidien... Ce texte est une remise à l'heure du pendule pour moi, Celoo! Traduction au besoin, lorsque nous nous reverrons... bientôt j'espère!