Não sei o que nos levou a Cingapura.
Pode ser que, alcançando a ponta da península do sudeste asiático, buscássemos a sensação de tarefa cumprida e hora de voltar para casa. Ou talvez a curiosidade de perceber com os sentidos um pouco do que é este tal “fenômeno” do mundo dos negócios globalizado: uma cidade-país-ilha que saiu do anonimato para as manchetes do Wall Street Journal em 40 anos e todo mundo agora quer tirar uma casquinha.
Em nosso caso a casquinha foi apenas de um par de dias caminhando tranquilamente pela metrópole famosa pela disciplina: altíssimas multas e excessivas proibições, a mais notória, divertida e, na minha modesta opinião, acertadíssima, mascar chiclete. Fosse o que fosse, ainda que fosse apenas um par de dias para pegar um avião e passear na roda-gigante gigante, valeu muito a pena.
Não que eu tenha gostado do que vi, mas gostei de ter visto. Acho que não é a primeira vez que digo isso, não?
Andando pelas grandes avenidas de Cingapura a primeira impressão foi de andar por uma espécie de cidade fantasma. Só que sabíamos que a cidade era habitada – 4º país mais denso do mundo, só que o país é uma cidade-estado – e os carros e ônibus denunciavam o frenesi da metrópole. No entanto, gente que é bom, pedestre comum, engravatado, madame com pequinês, grupos de estudantes de franjinha, ipod e roupas coloridas de plástico, onde estava esse povo?
Lembrei então que acostumei a esquecer o dia da semana. Olhei em meu relógio Adidas indiano de 2 dólares e vi que não era domingo. Pensei e não consegui formular nenhuma outra hipótese mirabolante, de forma que nos conformamos e continuamos nossa caminhada. Eu sabia que essa gente misturada de chinês com malaio com indiano com branquelos ocidentais engravatados estaria em algum lugar, mas não imaginei que, com o céu azul e clima agradável que fazia, estariam todos enfurnados embaixo da terra.
No fim do dia, decidimos voltar de metrô, ao que fomos obrigados a atravessar um shopping center, único meio de acessar o transporte , er... coletivo (?). Entrar no shopping de Cingapura após nove meses sem saber o que é um shopping, foi, para mim, tão surreal quanto deve ser para um alemão entrar no Ó do Borogodó de domingo: burburinho geral, música alta, gente, muita gente. Mais especificamente gente com compras, muitas sacolas de compras. Então inaugurei um novo jogo: contabilizar a porcentagem de pessoas saindo do shopping com e sem sacolas de compras na mão. Mas o jogo logo perdeu a graça, já que não havia ninguém sem sacolas.
Então percebemos, em primeiro lugar, como tem shopping nesse lugar. Deve superar o número de padarias, restaurantes japoneses e pet-shops de Sampa, tudojunto. E percebemos como o povo compra.
Sinto que Cingapura é um retrato da Ásia que perdeu a inocência: os valores familiares, o budismo, os costumes chineses de 4 mil anos, o Confúncio, o Tao Te King, vai tudo pro museu. Em troca são os intermináveis shoppings de eletro-eletrônicos, computadores, comida, roupas; a música internacional que impera na forma de jazz pros chineses comportados e de eletrônica para as novas gerações; a comida é de qualquer origem que não de Cingapura – indiana, malaia, indonésica, chinesa, tailandesa, marroquina, japonesa, alemã e, por que não, brasileira. E o esporte preferido, já adivinharam? Sair de compras, se chama.
É incrível o tipo de sacrifício que uma sociedade pode fazer para entrar no seleto mundo dos “civilizados”. Às vezes me parece que o mundo é igual a uma escola secundária onde alunos sacrificam seus valores para poder “pertencer” ao grupo dos playboys ou dos jogadores de futebol, enfim, dos chamados “populares”. A insegurança individual do adolescente parece que contagia nações que não têm maturidade cultural, identidade política e estado soberano.
Então os cingapurianos optaram por uma sociedade estrita e regulada, disciplina acima de tudo para progredir. Hoje o povo ganha, em média, mais que o português e três vezes mais que o brasileiro e paga 4 dólares por uma cerveja 0,5 litro. Mas que importa tudo isso, se legal mesmo é ter o último modelo de iphone...
Pode ser que, alcançando a ponta da península do sudeste asiático, buscássemos a sensação de tarefa cumprida e hora de voltar para casa. Ou talvez a curiosidade de perceber com os sentidos um pouco do que é este tal “fenômeno” do mundo dos negócios globalizado: uma cidade-país-ilha que saiu do anonimato para as manchetes do Wall Street Journal em 40 anos e todo mundo agora quer tirar uma casquinha.
Em nosso caso a casquinha foi apenas de um par de dias caminhando tranquilamente pela metrópole famosa pela disciplina: altíssimas multas e excessivas proibições, a mais notória, divertida e, na minha modesta opinião, acertadíssima, mascar chiclete. Fosse o que fosse, ainda que fosse apenas um par de dias para pegar um avião e passear na roda-gigante gigante, valeu muito a pena.
Não que eu tenha gostado do que vi, mas gostei de ter visto. Acho que não é a primeira vez que digo isso, não?
Andando pelas grandes avenidas de Cingapura a primeira impressão foi de andar por uma espécie de cidade fantasma. Só que sabíamos que a cidade era habitada – 4º país mais denso do mundo, só que o país é uma cidade-estado – e os carros e ônibus denunciavam o frenesi da metrópole. No entanto, gente que é bom, pedestre comum, engravatado, madame com pequinês, grupos de estudantes de franjinha, ipod e roupas coloridas de plástico, onde estava esse povo?
Lembrei então que acostumei a esquecer o dia da semana. Olhei em meu relógio Adidas indiano de 2 dólares e vi que não era domingo. Pensei e não consegui formular nenhuma outra hipótese mirabolante, de forma que nos conformamos e continuamos nossa caminhada. Eu sabia que essa gente misturada de chinês com malaio com indiano com branquelos ocidentais engravatados estaria em algum lugar, mas não imaginei que, com o céu azul e clima agradável que fazia, estariam todos enfurnados embaixo da terra.
No fim do dia, decidimos voltar de metrô, ao que fomos obrigados a atravessar um shopping center, único meio de acessar o transporte , er... coletivo (?). Entrar no shopping de Cingapura após nove meses sem saber o que é um shopping, foi, para mim, tão surreal quanto deve ser para um alemão entrar no Ó do Borogodó de domingo: burburinho geral, música alta, gente, muita gente. Mais especificamente gente com compras, muitas sacolas de compras. Então inaugurei um novo jogo: contabilizar a porcentagem de pessoas saindo do shopping com e sem sacolas de compras na mão. Mas o jogo logo perdeu a graça, já que não havia ninguém sem sacolas.
Então percebemos, em primeiro lugar, como tem shopping nesse lugar. Deve superar o número de padarias, restaurantes japoneses e pet-shops de Sampa, tudojunto. E percebemos como o povo compra.
Sinto que Cingapura é um retrato da Ásia que perdeu a inocência: os valores familiares, o budismo, os costumes chineses de 4 mil anos, o Confúncio, o Tao Te King, vai tudo pro museu. Em troca são os intermináveis shoppings de eletro-eletrônicos, computadores, comida, roupas; a música internacional que impera na forma de jazz pros chineses comportados e de eletrônica para as novas gerações; a comida é de qualquer origem que não de Cingapura – indiana, malaia, indonésica, chinesa, tailandesa, marroquina, japonesa, alemã e, por que não, brasileira. E o esporte preferido, já adivinharam? Sair de compras, se chama.
É incrível o tipo de sacrifício que uma sociedade pode fazer para entrar no seleto mundo dos “civilizados”. Às vezes me parece que o mundo é igual a uma escola secundária onde alunos sacrificam seus valores para poder “pertencer” ao grupo dos playboys ou dos jogadores de futebol, enfim, dos chamados “populares”. A insegurança individual do adolescente parece que contagia nações que não têm maturidade cultural, identidade política e estado soberano.
Então os cingapurianos optaram por uma sociedade estrita e regulada, disciplina acima de tudo para progredir. Hoje o povo ganha, em média, mais que o português e três vezes mais que o brasileiro e paga 4 dólares por uma cerveja 0,5 litro. Mas que importa tudo isso, se legal mesmo é ter o último modelo de iphone...