Dois dias antes de pegar o avião de volta, sento na linda praça do comércio, no centro de Lisboa, e, observando o movimento de carros, bondes, gentes, decido uma vez mais deixar que a viagem passe por mim.
Quando viajamos é natural o espírito inquieto tomar conta do corpo e a gente logo se vê sinonimando conhecer com percorrer.
Ali na Praça do Comércio, no entanto, sem mexer mais que os olhos - por vezes inclusive fechando-os para ouvir melhor a cornucópia de sons de um centro urbano - a cidade passa à minha volta como um documentário: o ocupado passando apressado como bom biznezman de banco ou qual outro disfarce pro estresse; o bonde chacoalhando velhinhos que já não dão mais para o sobe e desce da cidade das sete colinas; um estranho par de garis de boina que presumo ser o auge da elegância lusa ou apenas uma performance de artistas de rua; e do outro lado da rua outro par, desta vez de turistas brasileiras, tirando fotos, fazendo caretas e falando besteira, coisa que imediatamente me faz concluir "merda... como somos ridículos os turistas".
O fato é que, quando a gente pára, o resto das gentes pode dizer muita coisa. É uma maneira pacata de perceber a dinâmica de cidades que, quer você pare ou não, não param.
Deixando o corpo descansar, a cabeça segue viagem só, adivinhando aonde vai cada que passa, brincando com a memória acumulada, criando metáforas para dar conta de cada novidade percebida, metabolizando histórias pra exagerar aos amigos no bar ou aos netos na sobremesa.
Pois, viajar, também é ficar parado.
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2 comentários:
Mais, mais, quero mais!
Pois como deliciava-me. Sentirei falta dos textos inspirados e inspiradores, das fotos encantadas e encantadoras e do pensamento viajando para junto de vocês: fugia um pouco do cotidiano a cada novo post. E a cada novo post o cotidiano fugia de mim.
Exijo parada obrigatória aqui no Rio para tomarmos um vinho em meio às suas narrativas e minha sede por histórias e novidades - mais?
Sim, mais, mais, quero mais.
ah sim, um afortunado por ter como amigos um casal como vocês!
com carinho fraternal,
Klaus
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