Cada organização, escola, governo, setor da economia, partido político ou rede de rádio e televisão tem seu indicador econômico preferido. Um dos mais populares é o Produto Interno Bruto, vulgarmente conhecido como PIB, seguido de renda per capita, índice de alfabetização, mortalidade infantil, porcentagem da população em área rural, dívida externa, interna, etc etc. Eu, por meio desta, lego aos meios de comunicação o desafio de manipular estes indicadores para seguir a pauta - igualmente lego aos amigos economistas o desafio de interpretar os dados para desmascarar os meios. Praxe.
Para mim, no entanto, com o nobre e desafioador intento de interpretar lugares tão díspares quanto Angola, Nepal e Laos, criei meu próprio dispositivo: meço em salgadinhos. É o IDEA - Índice de Desenvolvimento Econômico do Aloisio. O IDEA, além de ser deveras prazeiroso - bem melhor que sair de prancheta na rua pra fazer pesquisa do IBOPE - inclui, em seus dados, elementos que retratam não apenas a indústria local, mas outros aspectos sócio-econômicos relevantes para analisar uma nação com justiça.
Ao identificar salgadinhos (e adendos) 100% nacionais e caseiros, percebe-se uma indústria que faz frente à globalização industrial. É o caso do mineiríssimo pão de queijo, que sou obrigado a levar na mala sempre que de visita ao Chile.
Ao identificar salgadinhos de muti-nacionais, porém customizados, asseguramos a resistência militante do paladar, resultando na institucionalização do gosto nacional. Se alguém discordar de mim, por gentileza explique o que significa uma batata-frita gringa sabor "frango a passarinho", se não for isso?
A riqueza brasileira nestes dois quesitos pode ser bem vista numa vitrine de padaria onde inúmeros quitutes enraizados no café da manhã cotidiano ou no lanchinho da tarde do povo desfilam lado a lado: coxinha, empadinha, pastel, pão de queijo, para não falar do maior dos clássicos: ovo cor de rosa. Para beber, que tal uma pepsi twist, uma caipirinha em lata ou um dos sensacionais refrigerantes nordestinos Guaraná Jesus - sempre provocantemente cor-de-rosa - e a paraibana Cajuína - ambos deram ou dão uma bela dor de cabeça para a pop-star gringa Bosta-Cola.
No México, não precisa ser gênio de marketing para adivinhar que de 10 sabores de salgadinhos, 11 devem conter algum tipo de pimenta, apimentado, super-spicy-sei-lá-o-quê! Hmmm...
No sul da África tenho analisado com fervor o índice de salgadinhos, o que tem revelado muito sob este pedaço do mundo. Muitas culturas compartilham costumes, provavelmente herdados de limitações técnicas e mesmo geográficas da região. Uma comidinha como o Funge angolano (tipo um "cuzcuz" nordestino) muda de nome para Nshima na Zâmbia e Ugali na Tanzânia, mas é a mesma maçaroca pra encher barriga; a Samosa indiana teve grande êxito e se espalhou até quase a costa oeste; os Sausage Rolls estão em todas as padarias dos países que o inglês penetrou, bem como os Fish and Chips insossos. Na Namíbia, os alemães felizmente ensinaram muito bem a turma a fazer saborosos küchen e vários modelos de salsichas enormes, além da fundamental cerveja Windhoek, a melhor até o momento; e na Tanzânia, os primeiros traços de influência árabe - além das evidentes roupas e prédios - são quitutes como kebak, kebbeh (assim era o quibe!!) e taboule (acho que aqui foi algum francês que misturou as bolas, afinal também teve francês nesta terra maluca). Tudo isto revela como as fronteiras políticas amputaram as identidades étnicas, agrupando por força do colarinho branco, grupos estranhos e inimigos e separando culturas empáticas. Mostra também, é evidente, o impacto (na minha modesta opinião positivo no caso da cerveja e negativo no caso do Fish and Chips sem sal).
No entanto não há, como poderia já ser de se esperar, salgadinhos industriais customizados. As batatinhas são sempre a porcaria gringa de "sour and cream", "salt and vinegar", lado a lado com os terríveis sabores "fruit chutney" e "chicken barbecue" que os sul-africanos impõem ao mercado regional. Justa exceção deve ser feita e muitos aplausos merece o excepcional Apple Max, refrigerante de maçã verde, pop-star dos fast-food de galinha da Zâmbia.
Mesmo embalado pela tubaína de maçã verde - e após coincidentemente conhecer num trem a tatara-nora da australiana que INVENTOU a maçã-verde (!!!) - não tive saída: tive que apelar para os enlatados. Por enquanto o campeão disparado é o Chakalaka, nem tanto pelo apimentado apanhado de legumes picados, mas pelo nome imbatível e pela cara de espanto que a Maca fez quando viu minhas compras.
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1 comentário:
bom comeco
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