He who stands on his tiptoes does not stand firm; (So), he who displays himself doesnot shine.
Aquele que permanece na ponta dos pés não se mantém firme; (Logo), aquele que se exibe não brilha.
(Lao Tse, extraído do Tao Te King, minha livre tradução!)
Desde que começou a viagem eu perturbo a Maca dizendo que vamos terminar em Papua Nova Guiné. Algum desejo de infância, anseio pelo remoto e desconhecido, talvez algum programa do Discovery Channel, sei lá, mas a Papua sempre esteve firme no meu imaginário. Talvez seja simplesmente porque soa super 'diferente'. Mas o 'diferente' seria necessariamente bom para nós?
Gastamos muita energia procurando o 'diferente'. Porque queremos ser 'diferentes', soar 'diferentes', parecer 'diferentes', fazer 'diferente', como se o mais 'diferente' nos aproximasse de sermos únicos. O que não é de todo mau. Afinal, somos únicos, necessariamente, não importa a maquiagem.
Mas jogamos muita energia fora procurando essa diferença em aspectos que estão no mundo afora, tal como bens materiais, gestos, destinos de viagem, música. Não adianta esconder, sinto uma certa satisfação em mostrar Barbatuques ou Pau d'Água para os gringos na Tailândia, como se eu fosse um verdadeiro Indiana Jones exibindo a última descoberta arqueológica brasileira. Entre os gringos da Tailândia, sou o único que conhecia esses artistas - quase, tem a Maca!!!
Mas esse processo é sem fim, a posse de coisas, idéias, aparência 'diferentes' procurando delinear o 'único' é temporária, transitória, impermanente. Ok, para muitas coisas, existe um primeiro, um único, um ato digno de registro pelos moldes dos livros de história ou Guiness Book: teve um milionário que foi ao espaço sem ser astronauta; teve um neozelandês que subiu o Everest primeiro; um brasileiro que inventou o avião; um inglês que "promulgou" a lei da gravidade; um alemão inventou o Marxismo; um italiano descobriu a América, achou que era Índia e outro levou o nome; um gênio egípcio inventou a cerveja; algum idiota francês ou português inventou o cê cedilha; um chinês inventou a pólvora e outro chines muito mais legal inventou o macarrão. E assim por diante: um nome associado a um feito, uma descoberta, um objeto, uma idéia. Mas será que precisamos entrar para o ânus da história para sermos verdadeiramente únicos?
Esse raciocínio tem me perturbado desde os primeiros destinos de nossa viagem até os mais recentes. Seja em um país que eu, pessoalmente, nunca havia ouvido falar, como a Namíbia ou a 5200m de altura no pé da cabeça do mundo, no Tibete, é sempre a mesma história: alguém mais já esteve, alguém mais está, alguém mais estará. Então eu não sou especial.
Claro que tivemos nossos momentos de pop-star em Madagascar e Laos, onde ser estrangeiro ainda parece impressionar em determinados setores do roteiro de turista. Mas, apesar de ser bem divertido sentir-se como o objeto de admiração - você, que está lá justamente para admirar -, no final das contas não agregou muito à esta jornada, nem me fez sentir mais 'único', foi apenas diversão fugaz. Mas ajuda nesta reflexão.
Então eu olho o Orkut e vejo a quantidade de "comunidades" que agrega as pessoas, a quantidade de amigos que cada um tem: comunidade dos corinthianos, dos "Eu Chamo Marcelo", ou a comunidade "Sou Rico Mesmo, e Daí?"; soa como se fosse uma competição pra ver quem tem mais comunidades, amigos, recadinhos, fãs - e é, em alguns sentidos, tem coraçõezinhos, estrelinhas e outros ícones para qualificar o indivíduo! E então pergunto qualé? Ser diferente, só, único, ou ser igual, compartilhar, "fazer parte", concordar com um grupo?
Olhando com calma ao redor, me assombra o quanto somos todos tão diferentes, ainda que compartilhando micro-sociedades - família, bairro, colégio, poder aquisitivo, nacionalidade, hobby, esporte - ou até aspectos físicos - cor, beleza, altura, deficiência - ou por fim as vulgares comunidades digitais do Orkut - de sexo, interesse, faculdade ou até a sensacional "Orkut que é bom ninguém quer dar".
Do outro lado, ser 'diferente' parece um atestado de não ser 'igual'. Mas se todos estiverem igualmente buscando serem 'diferentes' não serão todos igualmente diferentes?
Foi por isso que abri mão da Papua. Encontrei uma solução contemporaneamente metafísica: criar a comunidade "Marcelo, eu mesmo" no Orkut, postar perguntas e respostas para mim mesmo e não convidar ninguém para ver. Quem sabe assim descubro definitivamente minha identidade - a não ser que meu avatar Aloísio da Cidade roube a senha...
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